Naquelas semanas de confusão foste a única que ficou verdadeiramente feliz por mim, como se vivesse o sonho comigo, como se fossemos uma. Senti-me grata pelo teu sentimento, pelas tuas palavras, senti que não estava só. Que havia ali alguém que me amava incondicionalmente, sem reservas. E para quem a minha decisão importava. Para quem a minha decisão era um objectivo alcançado, depois de quase tudo o que era importante ter desaparecido com a vida.
Não é justo, digo-te agora. Tens que voltar para cumprirmos o sonho juntas, porque eu e tu já nos imaginámos lá, as duas. Tens que ser forte e doce, como quando me contavas histórias fantásticas junto ao prato de sopa que eu insistia em não querer comer.
Hoje falei de ti. Dos contos que inventavas, da tua criatividade e doçura, da maneira como me levavas para um mundo imaginário, cheio de coisas boas.
Fui encontrar isto nos meus rascunhos. Escrevi-te, no meio da confusão do meu dia, quando me telefonaram a dizer que estavas no hospital, que talvez não nos encontrássemos neste Universo novamente. Escrevi-te, de forma egoísta - vejo agora que assim foi - como forma de minorar o meu sofrimento.
E não esperaste por mim. Não esperaste pelo nosso último encontro. E não nos vamos mesmo voltar a encontrar.
Vejo-te em todo o lado, estás em toda a parte. Na caixa que encontrei na arrecadação, com os copos que me ofereceste, embrulhados em papel crepe cor de rosa. Nos raminhos de alfazema, que colhias no teu jardim e que me enviavas.
Não esperaste minha querida, não esperaste.
E ao ler o que escrevi nessa altura, eu tinha esperança que recuperasses. Mas não foi assim.
Sei que estás novamente com o amor da tua vida. E um dia, quando for eu a despedir-me dos meus netos, quero ir ter convosco. Tenho muitas, muitas, muitas saudades.