"Tens que aguentar..."
"A vida é mesmo assim..."
"Em todo o lado é igual..."
E vou ouvindo estas frases, da boca das mais diferentes pessoas, e tenho diferentes reacções, consoante o nível de paciência do momento. Na verdade, estou farta do meu trabalho! Ou melhor, não é bem do trabalho, é mais da escravatura do século XXI, que anda disfarçada de construção de carreira, do esforço hoje em prol do amanhã.
Estou farta!!!
Aliás, não sei quem entendeu que eu queria uma carreira. Talvez eu apenas queira trabalhar, em paz e com a consciência de uma boa prestação, e não queira carreira nenhuma! De qualquer forma, também não me parece que a vá ter... é pura escravidão!
Chegámos a um ponto em que a tecnologia actual mais parece ficção cientifica, mas perdemos todo e qualquer respeito pela pessoa, pelo individuo enquanto ser único e especial (sim, que todos somos!). A vida perdeu todo o valor.
O emprego que tu não queres há mais 300 que querem e até por menos dinheiro. E por menos condições. E bem bom ter uns trocos no final do mês para ir beber uns copos.
Por isso cala-te, deixa-te explorar no emprego, para teres dinheiro para o Banco onde tens o empréstimo da casa e do automóvel te explorar a seguir, para conseguires que a seguradora que te cobra um balúrdio te consiga explorar e para assim continuares numa vidinha de escravo, a brincar às pessoas felizes e realizadas.
Opá, metam-me num barco e vendam-me aí num sítio qualquer...
Onde???!...
No dia em que comprar uma Bimby, tiver aquela treta do jantar mensal com as amigas e deixar de beber: internem-me! Afinal, já não sou EU quem anda por aqui...
(raios parta a pobreza de espiríto!!!)
Fico feliz por, pelo menos, uma de nós estar realmente viva... (e fico feliz que sejas tu!)
Dicen que el tiempo y el olvido
Son como hermanos gemelos,
Que vas echando de más
Lo que un día echaste de menos.
AHHHH! A falta de tempo mata-me! (só um desabafo...)
Para terminar a narrativa da viagem a Marrocos, que foi no Verão, e já estamos no Outono, vou resumir a coisa.
Saímos de Essaouira, como já escrevi, cheios de pena, mas a estrada que vai até El Jadida, sempre pela costa, é brutal! Imensas praias a perder de vista e completamente vazias de gente. Um sonho!
A chegada a El Jadida é que não foi sonho nenhum, antes um pesadelo! Aquilo parecia o fim do mundo em cuecas, milhares de pessoas nas ruas e nós sem conseguirmos perceber que caminho haveríamos de seguir. Estradas cortadas, desvios, enfim, uma confusão como nunca tinha experimentado e espero não voltar a ter de o fazer. Mais tarde explicaram-nos que, durante o mês de Agosto, El Jadida é tipo Albufeira, o país vai todo para lá! Um horror!!!
Tirando isto, que até seria facilmente ultrapassado pela beleza da cidade, foi o local que menos gostei, pois beleza tinha zero. As ruas muito sujas, com imenso lixo (aqueles gajos têm um problema grave ao nível da limpeza das ruas) e marroquinos de classe mesmo muito baixa. Foi o único local onde o "está tudo bem" marroquino deu lugar a brigas de rua, e foi também o único local onde não conseguimos comer nas tascas de rua, pois há alguns limites que a malta tem necessidade de manter (as tascas eram mesmo nojentas).
Em compensação, a nossa riad era lindissima e mesmo em frente à Cité Portugaise.
A Cidade Portuguesa deveria ser muito gira, mas aquela malta de El Jadida conseguiu deixar aquilo uma escáfia. No entanto, nota-se bem a nossa presença lá e é uma pena que não tenham preservado o local. A única coisa que é mais ou menos protegida é a Cisterna Portuguesa, com um espelho de água de 5 centimetros, que é o ex-libris do lugar.
A Cisterna Portuguesa
O antigo porto outrora utilizado pelos portugueses
Desta vez foi com alegria que deixámos El Jadida em direcção a Marrakech, onde iríamos passar a nossa última noite antes de regressar a Lisboa.
A viagem decorreu sem problemas e passámos provavelmente pelas maiores rectas do país, com dezenas de quilómetros sem uma única curva. Até dava sono...
Para terminar as férias, escolhemos um resort, tipo daqueles da Republica Dominicana ou Brasil, onde os quartos se vão distribuindo pelos jardins. Estava cheio de famílias francesas, que aproveitavam o tempo na piscina. Ao conversarmos com algumas pessoas, percebemos que estavam ali duas semanas e nunca tinham ido visitar absolutamente mais nada no país, excepto uma saída ocasional até ao centro de Marrakech. Opções.
No dia seguinte, lá fomos para o aeroporto e quando chegámos vimos que o nosso voo de ligação, para Casablanca, tinha sido cancelado.
Depois de muita falta de explicações e de muitos turistas espanhóis a gritar, lá conseguimos perceber que havia grave de pilotos. Como o voo para Lisboa era ao final na tarde, meteram toda a gente em autocarros e assim fizémos o percurso pela auto-estrada de Marrakech a Casablanca.
Pormenor do aeroporto de Marrakech
Já no autocarro para Casablanca
Foram 4 horas de autocarro de plena tagarelice, pois conheci um senhor italiano cheio de aventuras de viagens para contar.
Felizmente, conseguimos chegar a tempo do nosso voo para Lisboa e desde o avião, foi bom voltar a ver a nossa cidade. Confesso que já tinha saudades. É que gosto muito de ir, mas também gosto de voltar a casa...
FIM
Créditos: as fotos da viagem foram captadas por mim e, na sua maioria, por Ricardo Carreira, ficando reservado o seu direito de utilização.
Como escrevi no post anterior, partimos do Oásis de Fint para Essaouira, uma cidade na costa atlantica de Marrocos.
O percurso, apesar de não ter mais que 3 curvas, demorou imenso tempo, devido à estrada estar em obras de 2 em 2 quilómetros.
Chegámos a Essaouira por voltas das 23 horas e havia imensa gente na rua. Dava para perceber que se tratava de uma localidade de Verão e ficámos insatisfeitos por chegar a um sítio que parecia Lagos mas maior. Depois da calma do Oásis não apetecia nada ter que lidar com a multidão.
Estacionar o carro foi relativamente fácil e descobrimos com surpresa que não ficava longe do riad onde iríamos pernoitar.
Tínhamos feito a reserva do quarto ainda em Portugal, e lá fomos com a nossa bagagem (que crescia de dia para dia, vá lá perceber-se porquê) ansiosos por um bom banho e alguns luxos que no deserto não são fáceis de encontrar. A escolha do riad, e do quarto em particular, tinha sido criteriosa e não nos importámos de pagar um pouco mais para nos alojarmos num sítio tão bonito. Claro que, à boa maneira marroquina, como chegámos tão tarde, o nosso quarto tinha sido alugado a outros hóspedes. No entanto, Monsieur Didier (um francês cinquentão e sósia de Herman José), dono do riad, descansou-nos e levou-nos para outro riad a 50 metros dali.
Começámos a ficar um bocado preocupados quando abriu uma porta pequena porta e vislumbrámos umas escadas íngremes de madeira, antecipando uma noite desconfortável numa escáfia de hotel. Estes pensamentos não poderiam estar mais longe da realidade! No cimo das escadas deparámo-nos com um riad fantástico, de design, com uma decoração irrepreensível e um terraço de cortar a respiração. Sem dúvida, um local muito mais bonito do que aquele que tínhamos reservado!
O nosso quarto era também fantástico e, quando ficámos sozinhos, sentámo-nos na cama, em silêncio, a observar tudo e ainda sem acreditar muito bem que estávamos num sítio tão elegante.
No meio do silêncio sobressaiu um barulho, que vinha da rua. Ao abrirmos a janela do quarto o barulho vinha daqui... Era esta a vista do nosso quarto!
Essaouira foi a minha cidade preferida e, quando for grande, gostava de viver lá e ter o meu próprio riad. Já me imagino com um lenço na cabeça a receber os visitantes... O mar, a praia, as pessoas, enfim, não há palavras. Vou ter que lá voltar. É daquelas coisas que tenho mesmo que fazer!
Durante o dia é uma cidade cheia de cores, ruas estreitas com as portas pintadas de azul que se confundem com as tonalidades quentes das especiarias, que estão à venda por todo o lado.
À noite, ruas movimentadas, com imensos cafés e bares por todo o lado.
Claro que as nossas refeições foram feitas em tascas de rua, apinhadas de marroquinos, com ar deliciado. Kebabs e peixe fresco grelhado, mesmo junto ao mercado do peixe. Sem luxos, mas verdadeiramente bom!
Essaouira
Há um traço português nesta cidade, quer no forte construído por nós (ainda Essaouira era Mogador), quer na cultura das pessoas, que nos tratam como se fossemos da família e referem sempre o nosso passado histórico comum (os gajos roubaram-nos o forte, mas tudo bem!!!).
Em Essaouira fizemos compras no sítio mais giro em que já estive, uma loja muito pequenina que vende todo o tipo de chás e plantas. O dono, um rapaz assim do mais simpático, chamava-lhe "pharmacie berbere". Comprámos chá para sorrir e viagra tuareg. Um luxo!
E foi com pena que saímos de lá, mas mesmo com muita pena e a amaldiçoar a nossa vida de pobre, com os dias de férias contabilizados ao milímetro, sem lugar para devaneios... Preciso tanto de ganhar o euromilhões...
E qual Infante D.Henrique, a vislumbrar futuros portos, fomos pela costa em direcção a El Jadida (a nossa antiga Mazagão).
TO BE CONTINUED