Em casa dos meus pais havia vários destes: não se falava de sexo, não se questionava a religião, não se dizia palavrões e, apesar de o ambiente familiar ser descontraído, havia várias coisas que eram mesmo tabu. Eu, que sempre fui do contra, ainda fiz umas tentativas mas, invariavelmente, a resposta era o silêncio.
Assim sendo, acabei por ir pregar para outra freguesia e encontrar nos amigos o espaço para falar de tudo {achava eu...}. Por isso, sempre fui a favor de falar, falar pelos cotovelos, a conversar é que a gente se entende! E foi esse o ambiente que criei com o R. cá em casa.
Mas a maternidade veio mostrar-me que há coisas das quais não se fala. Nem entre amigos. Não sem os massacrares. E é parvo, porque as pessoas sofrem em silêncio. E eu {sempre do contra} lá consegui chatear toda a gente até obter as minhas respostas.
Quando a M. nasceu passei mal. Muito mal mesmo. Não fisicamente, mas tinha a cabeça feita num oito e passava muito tempo a chorar. Angustiada. E sem saber muito bem porquê. Ou melhor, eu sabia que era hormonal mas nunca ninguém, nem as amigas mais próximas, me tinham falado nisso.
Houve uma tarde em que me senti mesmo mal. Deixei a M. com a avó e convoquei um lanche de urgência com algumas amigas, todas elas mães. Entre cafés, cigarros e lágrimas lá comecei a debitar as minhas desgraças: que estava triste, deprimida, só me apetecia chorar, etc, etc, etc. Então, aquelas amigas, mães, que conheço desde sempre, começaram a partilhar a sua experiência e percebi que todas, sem excepção, tinham estado ali onde eu estava agora. E todas tinham ficado caladas, endeusando o estado do pós-parto, como se fosse a melhor coisa do mundo. E não é!! É duro, é difícil e é complicado. Claro que depois passa e ter um bebé em casa é uma enorme felicidade. Mas não é imediato! E não percebo porque é que ninguém fala nisso. Fala-se nas depressões pós-parto, mas isso é um diagnóstico médico. Para quem só está triste e a tentar lidar com a nova realidade há um enorme silêncio, até mesmo de quem gosta de nós. E está errado.
Trazer um bebé para casa é um enorme desafio. E não faz mal estar triste. Só faz mal se não se falar nisso.
Seja ela qual for, eu hoje estou dessa cor!
Alguém que conheço foi hoje para Chicago.
Viver.
Chicago!!! Um das minhas cidades preferidas...
Estou podre de inveja! Podre!!!
Hoje a mãe {eu} saiu do casulo e foi apanhar sol e nadar! A praia seria o ideal mas para economizar tempo a piscina cumpriu o objectivo.
O bom: o sol, nadar, ficar deitada numa espreguiçadeira sem fazer nada...
O mau: vestir o bikini, despir o bikini e optar pelo fato de banho {preto, para disfarçar as novas aquisições que o meu corpo resolveu fazer...}.
O mesmo mau: achar que todas as mulheres estavam mais elegantes do que eu!
Sniff...
Ah e tal e coiso e pronto. Há quase um ano que não vinha aqui {leia-se não vinha aqui escrever} porque vim muitas vezes ler(-me). Foi um ano do caraças e, resumindo e baralhando e voltando a baralhar, tenho um bebé em casa! E por acaso até é meu e esteve na minha barriga e essas coisas todas.
E, com isto tudo descobri, que há por aí um lobby das mães, tipo uma máfia fofinha que dita as regras desta coisa da maternidade. Desde o que vestir, calçar, comer, usar, ouvir, sentir, cheirar, blá blá blá, quer para a mãe, quer para a criança. Ora, claro está, que não tenho a MÍNIMA paciência para isto e sinto-me assim meio patinho feio, meio bicho raro das mães! Na verdade, eu só quero que o bebé esteja bem e feliz e também quero o meu corpo de volta!! Preocupa-me muito mais o facto de a barriga insistir {chata, pá!} em continuar grande {eu ia escrever grandinha, tipo auto-consolo} do que vestir a roupa que a Cácá ou outra qualquer diz que é supé-gira-fantástica.
Então fui para o ginásio. Há dois dias. Estou aqui com aquelas dores todas no corpo, completamente desgraçada mas, ainda assim, determinada em voltar ao peso normal {ainda achava eu que era gorda!}. A par disto, só me apetece beber vinho, fumar, comer chocolates e bolos. Já falei com as hormonas mas elas não querem nem saber de mim. Por isso, vou continuar aqui desgraçada, com dores e desejos e essas coisas todas. E a fazer exercício. E dieta. Obrigada...!
Após verificar que estou quase há um ano sem escrever aqui... enchi-me de vergonha...! Shame on me...
Pois é, não fui despedida.
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu ando para aqui e para ali e para todo o lado a queixar-me, enquanto {segundo algumas opiniões} deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu acho mal trabalhar muito, ser mal paga, ser explorada, ter que levar com conversas de merda, enquanto deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
Como costumo dizer ao R., o que realmente custa, é levantar o traseiro da cama todas as manhãs e ir trabalhar. Custa muito muito menos ficar a ter conversas no café sobre a crise, o desemprego e blá blá blá...
Hoje {dia particulamente chato/aborrecido/merdoso} o plano é ir para casa beber...
E o plano não é um exclusivo meu.
Há por aí meia dúzia de alminhas que devem estar a fazer a mesma coisa...