Tinha guardado aquelas cartas, pedaços de papel, riscados por ti, que na altura procuravas as palavras certas... na altura em que ainda acreditávamos que existiam... e que não querias que sentisse falta de verbos quentes e amorosos, conjugados nas únicas pessoas que existiam, eu e tu.
Li-as todas. São tantas! Tempos houve em que me pareceram tão poucas. Engraçado isto. Mas sim, li-as todas. E se mais fosse preciso para me esclarecer, ali está a prova que vivemos juntos e afastados tempo demais. E admiro-nos pela persistência. E pela juventude. E pela graciosidade da inocência.
Gosto mais de mim agora. Entendo-me melhor. Perdoo-me mais e dou-me mais espaço. Naqueles dias fazia este esforço apenas para ti. E tu, deves partilhar isto comigo. Também deves gostar mais do ser humano, da pessoa que és.
Não falamos faz muito. Mas dizer o quê? A conversa sobre meteorologia aliada a uma compensação social?
Agora que já não temos verbos para conjugar apenas somos dois estranhos que dividiram o passado.