É sexta-feira, menos mal. Um cigarro e um copo de Alento 2010. Tinto, que eu sou pelo vinho tinto.
Hoje isto para aqui (entenda-se a minha cabeça) está uma confusão.
Odeio esta merda toda. Odeio o sítio onde trabalho. Odeio os meus dias, cada minuto que passo entre aquelas paredes. Odeio este governo. Odeio esta puta da austeridade inventada para me comer a vida, os sonhos e o futuro. Odeio ter que me preocupar com dinheiro. Odeio dinheiro. Odeio o filho da puta do velho que gere os meus dias úteis (leia-se director). Odeio não lhe poder dar um murro na tromba quando fica fixamente a olhar-me para o decote. E odeio simplesmente não lhe poder dar um murro na tromba porque ele merece. Até merecia mais do que um.
Preocupa-me não conseguir sair daquele sítio, não conseguir arranjar outro emprego. E eu não sou daquela malta que se queixa e nada faz. Eu tenho ido à luta. Por todo o lado. Vou a entrevistas em Lisboa. Em Bruxelas. Até durante o verão, ao visitar a sede da Nações Unidas em Nova Iorque, massacrei tanto a guia sobre como conseguir ir trabalhar para lá que, no final da visita, a pobre senhora fugia de mim. Ela não entendeu o meu desespero.
Já não gosto de viver aqui. A luz de Lisboa já não me fascina. Já não é bom voltar a casa no fim de uma viagem. Este país já não é a minha casa. E o sentimento é tão triste que alegremente deixaria tudo para trás.
Odeio a falta de empenho das pessoas. A falta de profissionalismo. Odeio quem dorme à sombra da bananeira e passa as suas responsabilidades para os outros. Odeio esta forma tipicamente portuguesa de encarar as coisas. Odeio que um jogo de futebol distraia todos daquilo que é realmente importante. Odeio fazer parte de um país com tantos ignorantes, que não pensam nem sabem pensar.
Odeio estes corruptos de merda, filhos de uma grande puta, deviam estar todos presos e não a receber pensões vitalícias pagas com o esforço do meu trabalho. Fodei-vos todos!!! - parafraseando alguém que conheci há uns tempos atrás.
Odeio não controlar a minha vida, o meu futuro e que a minha existência seja manipulada por escroques, para quem sou apenas um número. E é tão fácil fazer coisas más a números.
E fico aflita. Os meus amigos estão, na sua maioria, a ter filhos. Porque ter filhos faz parte da vida e dos sonhos das pessoas. E porque é assim que está bem. Mas preocupa-me para que raio de sítio se está a trazer um ser humano. Será que vão ter condições para lhe dar uma vida boa? Será que vão ter dinheiro para tudo? Esta semana tive uma troca de ideias mais acesa com um colega que me dizia: "Eu tenho um filho e quero ter mais dois. Cá fora tudo se cria!". Mentalmente chamei-lhe ó minha besta. Mas contive-me e expliquei-lhe que isso é conversa do tempo dos nossos avós, quando as pessoas comiam daquilo que a horta dava e que aos dez anos iam trabalhar para o campo. Agora, o tudo se cria, é uma prestação mensal num colégio, são aulas de ballet, judo e natação, são brinquedos cromos e caros, são roupas, livros escolares e tudo o resto. E entre muitas outras coisas que dissemos um ao outro já não sei quem ficou mais triste.
E pronto. Hoje estou assim.
Vou ali beber mais vinho. Ontem foi uma garrafa. Hoje deverá ser outra.