Be careful what you wish for
cause you just might get it all
you just might get it all and then some you dont want.
A partilha desta viagem já vai longa e não tenho tido nem tempo real, nem tempo psicológico (vulgo vontade...) de escrever, pois ando um bocado cansada e férias é o que eu já estou a precisar outra vez...
Mas como me propus a escrever esta experiência resta-me continuar...
A saída para o deserto foi feita desde o Auberge du Sud. Tínhamos 1h e 30m de viagem até ao acampamento sentados nuns confortáveis camelos, que nos arruinaram o rabo e zonas adjacentes, mas que nos proporcionaram a vista de um pôr do sol inesquecível.
O pôr-do-sol deserto
Chegados ao acampamento, jantar (comi a melhor sopa do mundo!) e mais uma musiquinha berbere para animar. Nessa noite fomos deitar-nos cedo, porque queríamos acordar para ver o sol nascer. As nossas camas estavam preparadas na rua, no meio da areia e dormir debaixo das estrelas enche a alma!
A meio da noite acordei com a luz e pensei que tinha perdido o momento do nascer do sol, mas era a luz da lua que, entretanto, tinha também nascido.
Antes do pequeno-almoço, e com a higiene íntima por resolver, lá fomos sentar-nos numa duna e ficámos à espera do sol. Nesse momento, o deserto encheu-se de cores que eu não conhecia e que ainda agora não consigo descrever.
O nascer do sol
Depois do pequeno-almoço, voltámos para o Auberge (mais uma hora e meia de camelo) e pudemos beber um café e tomar um mais que merecido banho!
Foi com pena que saímos do Auberge du Sud, mas tínhamos mais 300Kms à nossa frente até ao Oásis de Fint, perto de Ouarzazate.
O Oásis de Fint foi-nos sugerido pelo dono do Auberge du Sud, como forma de fugir aos locais mais turísticos. Combinámos que, chegados a Ouarzazate, iríamos telefonar para nos irem buscar, pois em Marrocos é difícil viver de indicações!
E assim foi! E foi outra aventura. O Oásis de Fint é uma pequena aldeia onde se vive em comunidade e onde se cultiva e produz aquilo que se come. Não há estrada para lá, e tivemos que enfiar o nosso Dacia Logan alugado pelo meio de crateras de terra batida, pedras e até um rio! Enfim, todo um filme! Claro que não há rede de telemóvel e só há 2 anos que aquele lugar tem electricidade, graças ao actual rei de Marrocos.
O Oásis é outro local saído de um filme. O rio, onde se lava a roupa, a vegetação, que pinta tudo de verde, e as pessoas que são assim do mais simpático possível.
Oásis de Fint
Pela primeira vez comi manteiga caseira e fui a atracção dos adolescentes da aldeia, quando fomos nadar ao rio (mulheres de bikini é coisa que não abunda em Marrocos!).
Depois de termos ajudado a carregar um fogão (sim, que ali toda a gente tem de ajudar!) e de termos feito de taxistas para um dos homens da aldeia (fomos com ele comprar fruta, iogurtes e tal), continuámos o nosso caminho, desta vez em direcção à costa, a Essaouira.
TO BE CONTINUED...
Li, já não recordo onde, que quem vai ao deserto uma vez, não resiste em voltar mais uma e outra e outra vez...
Saímos de Ouarzazate de manhã ou, pelo menos, tentámos. As caixas multibanco estavam meio escavacadas e nem estrangeiros nem locais conseguiam levantar dinheiro. Deitámos contas à vida: tínhamos uns trocos para o café e para pôr uns litros de gasolina.
Já equacionávamos telefonar para casa na tentativa de arranjar dinheiro de uma forma qualquer, quando o sistema operativo voltou a funcionar e lá conseguimos ficar com as carteiras cheias de dirhams e o depósito de combustível. E lá fomos então para em direcção a Merzouga, a cidade (vá ok, cidade...) no deserto.
Passámos por Agdz e a mudança da paisagem tornou-se óbvia: vários oásis no meio de um sítio árido e um calor muito mais seco do que aquele que tínhamos experimentado até então. Montanhas a perder de vista.
A caminho do deserto
Parámos em Tazzarine para almoçar. Tazzarine é uma cidade que faz lembrar uma emissão em directo ao estilo "algures no deserto" à Artur Albarran: muita gente nas ruas, muitos carros, barraquinhas de comida, carroças e um calor abrasador. O céu coberto com uma camada de areia, por onde passava a luz mas não se via o sol, antecipando a tempestade que iríamos atravessar a seguir.
Decidimos almoçar no restaurante do único hotel da cidade. Era agradável, com um jardim e uma piscina, onde um grupo de crianças marroquinas fazia uma festa de mergulhos. A comida era aceitável (hummmmm tagine, que saudades!), comemos melancia daquela mesmo boa e finalizámos com um café. A animação durante o almoço consistiu em que um dos miúdos resolveu "evacuar" na piscina e andavam os empregados todos de um lado para o outro a tentar resolver a situação ! Enfim, só em Marrocos.
Continuámos a nossa viagem ansiosos por chegar a Rissani, a maior cidade junto ao deserto.
No caminho a paisagem ficou ainda mais árida e passámos por uma tempestade de areia, daquelas com direito a remoinhos e tudo!
Tempestade de areia
Tínhamos efectivamente chegado ao deserto! E os camelos à beira (ou na) estrada não deixavam margem para dúvidas.
Quando saímos de Portugal pareceu-nos importante levar o GPS já que iríamos passar muito tempo a conduzir num país totalmente estranho. Não sabíamos então que Marrocos está mesmo muito mal cartografado, e, quando chegámos a Rissani, tivemos que perguntar o caminho para Merzouga.
Perguntar o caminho não tem nada de estranho... excepto se for em Marrocos! A partir do momento em que se dirige a palavra a alguém fica-se meia hora a falar, porque perguntam tudo: de onde somos, onde vamos ficar a dormir, quanto pagámos pelo aluguer do carro, etc, etc.
Depois de despachar a conversa chegámos a Merzouga. Não chamaria aquele sítio de cidade, é assim mais um lugar. Com umas casas, umas dunas e muita gente na rua (para não variar!).
Mais uma vez tivemos que perguntar qual o caminho para o nosso hotel e ficámos a saber que tínhamos que andar uns 15 km para trás, entrar numa pista (a típica estrada de terra batida) e percorrer essa estrada durante uns 30 Km e estávamos lá!
Com o coração nas mãos, a pensar no nosso carro alugado e a imaginá-lo já todo partido, demos meia volta e lá fomos procurar o Auberge du Sud.
Andar em pista com qualquer carro que não seja um jipe é de coragem, mas finalmente chegámos ao nosso destino, apenas com um tampão do carro "algures no deserto"...
O Auberge du Sud é assim um sítio mágico, mesmo junto às dunas de Erg Chebbi. E é tão fantástico que qualquer coisa que escrevesse seria completamente aquém da realidade. Só estando lá! A paisagem, o ambiente do auberge, as pessoas... nunca tinha vivido nada assim e agora só penso em regressar...
No dia seguinte, e aconselhados pelo Hamid (o nosso anfitrião), fizémos um passeio de jipe pela zona de Erg Chebbi: fomos ver os fósseis, ouvir música tradicional berbere à tribo dos Gnaoua (onde fomos convidados para assistir a um casamento - momento mais National Geographic seria impossível!!!), ver o lago (sim, há um lago enorme no meio do deserto), tomar chá com uma família nómada, comer pizza berbere (que saudades...) e visitar o oásis que serve a população da tribo dos Gnaoua.
Erg Chebbi
O deserto visto da piscina do Auberge du Sud
No final da tarde, regressámos ao auberge para apanhar o camelo mais próximo e partir para passar a noite no deserto.
TO BE CONTINUED
Como escrevi no post anterior, conduzir à noite em Marrocos é por si só toda uma experiência, mais uma que faz daquele país um local especial.
Saímos de Marrakech em direcção a Ait-Benhaddou cerca das 18 horas e, como tínhamos aproximadamente 200 Km para percorrer, achámos que chegaríamos a Ait-Benhaddou às 8 ou 9 da noite. A ignorância era imensa...
Além de não termos ainda experimentado as estradas marroquinas com tudo o que as caracteriza, não sabíamos também que esse percurso é feito pela única estrada que liga Marrakech a Ouarzazate, estrada essa cheia de curvas e curvinhas pelo meio das montanhas. Tudo isto conjugado com camiões carregados até à alma e a andar à estonteante velocidade de 7 km/hora (não, não estou a exagerar...) fez-nos chegar a Ait-Benhaddou às 23h e 30m, mas na expectativa de qual seria a paisagem no dia seguinte ao acordar.
A Curva e a contracurva na estrada para Ouarzazate :)
Ficámos hospedados numa Maison d'hôtes mesmo à entrada de Ait-Benhaddou, de seu nome Lokfel. Aconselho a visitar o site desta pequena casa de hóspedes e acreditem que as fotografias fazem justiça ao espaço: é mesmo assim! Lindo!
Apesar de termos chegados tão tarde e de sermos os únicos hóspedes naquela noite, tivemos direito a um óptimo jantar de Tagine Kefta (quem gosta de Kebabs vai adorar!), acompanhado de umas cervejas geladas e ainda sobremesa. Muito bom!
O jantar no Lokfel
Como tínhamos saído do carro carregados com as nossas malas, máquina fotográfica e os sacos das nossas compras em Marrakech, esquecemo-nos de trancar o carro. Alguém que estava a passar reparou e foi ao hotel avisar-nos. Espírito marroquino!:)
Na manhã seguinte, tínhamos um fantástico pequeno-almoço no terraço do Lokfel à nossa espera: pão, compotas, manteiga, sumo de laranja natural, café e bolo.
Pequeno-almoço maravilha:))
O terraço do Lokfel, em Ait-Benhaddou
Estar em Ait-Benhaddou é como ter entrado numa máquina do tempo. Quando finalmente pude ver aquele lugar emocionei-me de uma forma que racionalmente não consigo explicar. É lindo mas de uma forma simples e despretensiosa, e não é à toa que filmes como "Jesus de Nazaré", "A jóia do Nilo" ou "O Gladiador" tenham tido aqui o seu cenário.
Por 10 dirhams (cerca de 1 euro) pode-se visitar o seu interior e percorrer aquelas ruas, com casas cheias de pormenores e construídas com tijolos feitos de barro e palha. Junto ao Kasbah há ainda um leito de um rio, na altura seco, mas que pelo recorte das margens mostra ser enorme.
Kasbah de Ait-Benhaddou
O que resta da arena do "Gladiador"
Os belos dos tijolos de barro e palha a secar ao sol
Depois de mais um café numa esplanada com vista para o kasbah, seguimos para Ouarzazate, um percurso desta vez mais tranquilo, de apenas 30 Km.
Ouarzazate é uma cidade muito turística, onde estão os estúdios de cinema, que se podem visitar. Como não era essa a nossa onda, dedicamo-nos a passear um bocado e a apreciar a gastronomia local.
Na rua, ofereceram-nos chocolate pour la tete , convite que tivemos que declinar, pois aqui não se brinca com essas coisas!
Ouarzazate
Como na manhã seguinte iríamos seguir para o deserto, bebemos uns gins na esplanada do hotel e fomos dormir.
TO BE CONTINUED...