Pouco. Muito pouco.
"Eu, vou ser escritora!" - respondeu-me do alto dos seus nove anos. Na verdade, ninguém me mandou perguntar sobre futuro, mas também ninguém me disse que médica, professora ou cabeleireira já não eram profissões que as crianças escolhiam...
E, no momento, deu-me vontade de ser má. De lhe contar que o mundo não é aquele que os nosso olhos vêem. Que talvez ser escritora não fosse algo assim tão fácil ou um dado tão adquirido como ela apresentava ser. Apeteceu-me destruir-lhe o sonho. Provavelmente porque eu também quero ser escritora quando for grande. Porque também eu queria ter de novo nove anos. Porque talvez tenha ficado com inveja de não ter todas as portas e janelas e estradas e caminhos para ser o que quisesse, até mesmo escritora, até mesmo nada.
Mas calei-me. Sorri e disse apenas "Gosto!". Porque gosto mesmo. Porque não quis estragar o sonho ou simplesmente não quis arriscar que uma miúda de nove anos ignorasse um meu mau comentário.
E vim aqui escrever. Com medo de não conseguir voltar a escrever.
[Estamos bonitas, estamos...]
Vim aqui só respirar que a vida não está a deixar!