Era o nome dela. Da minha tia-avó. E foi tão minha avó como a minha avó.
E hoje lembrei-me dela, porque há pessoas que ficam para sempre nas nossas vidas, apesar de ausentes.
Conheci-a quando nasci, ao mesmo tempo que conheci os meus avós. Já ela era velhota ou, pelo menos, assim me parecia. Do alto dos dois, três, quatros anos de idade (ou daquilo que a nossa memória se consegue lembrar) todas as pessoas com mais de 20 anos eram velhas. Umas mais que outras, mas ela encaixava-se no ser velhota como uma avó.
Eu era a única sobrinha-neta que tinha e o meu pai o único sobrinho (sim, isto do filho único corre-nos no sangue) e assim, quando ficámos sem ela nas nossas vidas (um dia daqueles mesmo triste, como se nos tivessem arrancado um pedaço do coração) eu quis ficar com tudo o que havia em casa dela. Não pelo valor ou pelo dinheiro, mas para poder lembrá-la e visitá-la quando me apetecesse. E vieram os álbuns de fotografias, almofadas giras que ela própria fazia e todas as louças que havia lá em casa (já diz o outro... as gajas pelam-se por porcelana!).
E hoje lembrei-me dela porque ando encantada com um conjunto de copos, que estavam numa caixa, enrolados em papel crepe cor-de-rosa. E, cada vez que me apetece um copo de vinho, vou buscá-los. E sabe muito melhor. Sabe à casa da Tia Felicidade.
Há pouco tempo, em conversa com a minha mãe, soube o porquê de ela nunca ter casado. Teve um namorado, um grande amor, que se apaixonou por outra mulher quando estavam noivos e ela nunca mais quis amar ninguém da mesma forma. Fiquei a pensar que hoje já não somos tão românticos, dramáticos. Quando não resulta procuramos outra coisa. Somos mais simples mas talvez sintamos menos as emoções.
A Tia Felicidade era o contrário daquilo que imaginamos ser uma pessoa só e que sofreu por amor. Era doce, meiga, carinhosa, sempre com uma palavra engraçada para dizer a todos. A vida, que ela escolheu ou aquela que se lhe apresentou, não a moldou. Ela era exactamente aquilo que queria ser. Com os seus desgostos. E os seus amores. E saber isso faz-me bem.
Bom fim-de-semana!
"Insultos, ameaças e agressão física. Deputados já sentem na pele o aumento da tensão social. Fora e dentro do Parlamento.
O protesto de um grupo de empresários do sector da restauração nas galerias da Assembleia da República, na quarta-feira – enquanto se discutiam propostas da esquerda para que o imposto sobre o IVA seja reposto nos 13% – é o episódio mais recente da contestação que tem afectado os deputados nas últimas semanas. Mas o confronto já passou a barreira dos insultos e os limites do Parlamento.
Um dos casos mais graves aconteceu com Duarte Pacheco, do PSD, à saída da Assembleia da República (AR), no dia em que Vitor Gaspar ali entregava o Orçamento do Estado, sabe o SOL. Com centenas de manifestantes a cercar o Parlamento, o deputado social-democrata viu o seu carro oficial ser atacado a murros e pontapés quanto tentava sair da garagem da AR. «Ficou um bocado amachucado», diz o secretário da mesa da AR.
Atrás, o carro oficial de Teresa Morais, secretária de Estado dos Assuntos Parlamentares, tentava também sair da garagem, mas acabou por fazer marcha-atrás. Seguia-se José Luís Ferreira, deputado de Os Verdes, que foi avisado pela segurança do Parlamento de que o melhor era não sair. O deputado foi jantar e quando voltou às 23h, a situação ainda não era segura. Foi para casa «de transportes públicos» e deixou o carro na garagem da AR.
Estes incidentes ocorreram num ambiente de crispação colectiva, com a manifestação junto ao Parlamento. Porém, também o dia-a-dia de alguns deputados já começa a ser ameaçado por protestos e gritos de ordem contra a classe política."
Jornal Sol, 26/10/2012
Quase que me caía uma lagriminha...
Quando é que os políticos portugueses começam a perceber que isso de ser desonesto com o dinheiro dos outros e estragar a vida das pessoas e no fim sair impune está a acabar?
Pela primeira vez em toda a minha vida tive medo de comprar uma viagem e estou fu!
Tive medo de gastar o dinheiro! Fiquei a pensar se, com isto tudo que para aqui anda no Reino de Pernas para o Ar, não iria (irei) precisar do malvado do dinheiro mais tarde. Para pagar o IMI, a prestação da casa ao banco, o seguro do carro ou, em última instância, para ir ao supermercado comprar papas (que pelo que li está assim no top mais das vendas!).
E fiquei mesmo mesmo mesmo zangada. Comigo, por me permitir pensar assim, sinal de que aqueles filhos de uma grande senhora estão a conseguir entrar na minha cabeça. E ainda mais zangada com essa corja de malandros, corruptos e criminosos por tentarem mandar na minha vida!
Eu não estou propriamente em casa o dia todo a coçá-los para ter que contar moedas para ir viajar, que é o que me faz levantar da cama todas as manhãs para aturar todos os caramelos com quem me cruzo durante o dia (e muitas vezes até durante a noite). Eu trabalho para viajar!!! E pronto! É assim que funciona!
Depois lá me recompus e comprei a viagem. E fiquei a pensar no dia em que vou comprar um bilhete de avião, mas só de ida. Para me pirar daqui. E o Cavaco pode ficar descansado que eu não lhe vou escrever nenhuma carta de despedida a lamentar-me de como deixei o meu país. A nossa casa é onde nos sentimos bem, é onde existe confiança, esperança, futuro. E este país já não é a minha casa.
[E no meio de isto tudo ainda li que um tipo fez 90 operações plásticas para ficar parecido com o Ken (o da Barbie). Se me perguntarem acho que ficou mais parecido com a Betty (a do Castelo Branco). Azeda eu...]
E assim estamos...
É sexta-feira, menos mal. Um cigarro e um copo de Alento 2010. Tinto, que eu sou pelo vinho tinto.
Hoje isto para aqui (entenda-se a minha cabeça) está uma confusão.
Odeio esta merda toda. Odeio o sítio onde trabalho. Odeio os meus dias, cada minuto que passo entre aquelas paredes. Odeio este governo. Odeio esta puta da austeridade inventada para me comer a vida, os sonhos e o futuro. Odeio ter que me preocupar com dinheiro. Odeio dinheiro. Odeio o filho da puta do velho que gere os meus dias úteis (leia-se director). Odeio não lhe poder dar um murro na tromba quando fica fixamente a olhar-me para o decote. E odeio simplesmente não lhe poder dar um murro na tromba porque ele merece. Até merecia mais do que um.
Preocupa-me não conseguir sair daquele sítio, não conseguir arranjar outro emprego. E eu não sou daquela malta que se queixa e nada faz. Eu tenho ido à luta. Por todo o lado. Vou a entrevistas em Lisboa. Em Bruxelas. Até durante o verão, ao visitar a sede da Nações Unidas em Nova Iorque, massacrei tanto a guia sobre como conseguir ir trabalhar para lá que, no final da visita, a pobre senhora fugia de mim. Ela não entendeu o meu desespero.
Já não gosto de viver aqui. A luz de Lisboa já não me fascina. Já não é bom voltar a casa no fim de uma viagem. Este país já não é a minha casa. E o sentimento é tão triste que alegremente deixaria tudo para trás.
Odeio a falta de empenho das pessoas. A falta de profissionalismo. Odeio quem dorme à sombra da bananeira e passa as suas responsabilidades para os outros. Odeio esta forma tipicamente portuguesa de encarar as coisas. Odeio que um jogo de futebol distraia todos daquilo que é realmente importante. Odeio fazer parte de um país com tantos ignorantes, que não pensam nem sabem pensar.
Odeio estes corruptos de merda, filhos de uma grande puta, deviam estar todos presos e não a receber pensões vitalícias pagas com o esforço do meu trabalho. Fodei-vos todos!!! - parafraseando alguém que conheci há uns tempos atrás.
Odeio não controlar a minha vida, o meu futuro e que a minha existência seja manipulada por escroques, para quem sou apenas um número. E é tão fácil fazer coisas más a números.
E fico aflita. Os meus amigos estão, na sua maioria, a ter filhos. Porque ter filhos faz parte da vida e dos sonhos das pessoas. E porque é assim que está bem. Mas preocupa-me para que raio de sítio se está a trazer um ser humano. Será que vão ter condições para lhe dar uma vida boa? Será que vão ter dinheiro para tudo? Esta semana tive uma troca de ideias mais acesa com um colega que me dizia: "Eu tenho um filho e quero ter mais dois. Cá fora tudo se cria!". Mentalmente chamei-lhe ó minha besta. Mas contive-me e expliquei-lhe que isso é conversa do tempo dos nossos avós, quando as pessoas comiam daquilo que a horta dava e que aos dez anos iam trabalhar para o campo. Agora, o tudo se cria, é uma prestação mensal num colégio, são aulas de ballet, judo e natação, são brinquedos cromos e caros, são roupas, livros escolares e tudo o resto. E entre muitas outras coisas que dissemos um ao outro já não sei quem ficou mais triste.
E pronto. Hoje estou assim.
Vou ali beber mais vinho. Ontem foi uma garrafa. Hoje deverá ser outra.
Porque todos já o fizemos. Uma ou outra vez. E foi bom. Ou não. Mas melhor que ficar em casa a chorar é sair por aí e ver o que acontece...
Gostava tanto mas tanto tanto de saber onde anda a senhora que vem (ou vinha) limpar-me a casa e passar a roupa a ferro...
Estou quase a ir espalhar cartazes pelos candeeiros aqui do bairro...