Olho para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, longe, perto. E não. Não é uma qualquer música para crianças com finalidades pedagógicas de noções espaciais. É mesmo a realidade, aquilo a que chamam vida. E que tem corrido mal a todos.
- Estás chateada comigo?
Não!!! Estou chateada COMIGO!!!
Por tudo e por nada. É quase por ser quem sou, como sou. Por não evoluir, por achar que todos os contos têm necessariamente que ser de fadas, com varinhas mágicas, e, nesta altura, já devia ter compreendido e assimilado que, varinhas mágicas, só aquelas que trituram os vegetais para a sopa.
Recuso-me a compreender a verdade mais elementar. Que não controlo a minha existência. Que dependo de outros. Até aqui tudo bem. Estamos todos no mesmo barco. Ninguém se basta a si próprio. Não para sempre. Não sempre bem.
A desilusão baseia-se mais no vício. No vício da companhia, das conversas, dos momentos que, claro!, são todos únicos e especiais.
Cresci a saber que as Cinderelas iam morar nos castelos no alto dos montes com os príncipes encantados, que outrora foram sapos viscosos. Alguém se esqueceu de continuar a escrever que, passado algum tempo, a Cinderela começou a tomar xanax para dormir e que o príncipe voltou à sua forma original.
Dou assim por mim com uma visão romântica do amor (seja lá isso o que for) e não entendo as complicações e hesitações e outras coisas terminadas em ões dos outros.
E passo mal. Tão mal, tão mal.
Recomponho-me, é certo. Sei de antemão que não vou morrer de tristeza, e que vai passar e que vou voltar a rir até ter dores no estômago. Mas quase que tenho a certeza que um desgosto de amor pode enlouquecer as pessoas.
Depois há as palavras. As que se dizem, as que ficam por dizer, as que queríamos ter dito e aquelas em que na altura em que abrimos a boca nos deveria cair uma bigorna ou um piano em cima.
Já nos disseram amo-te milhentas vezes. amo-te. amo-te. Amo-te tanto. Amo-te muito. Porque quando se está apaixonado todas as palavras parecem poucas para o expressar. E vamo-nos repetindo até à exaustão, até acharmos que o outro já sabe a forma absoluta e magnifica do nosso sentimento. On the other hand, um "já não gosto de ti" é dito uma vez. Só. Depressa e secamente, para não deixar dúvidas, para não haver lugar para desacordos. Mas, no final, aquilo que fica é a falta de amor a que somos votados e todas as horas boas se diluem.
E agora, que tenho o coração no Pólo Norte (literalmente), as coisas continuam difíceis e complicadas, porque quem vai apanha ar e quem fica apanha tudo o resto, sem isso ser necessariamente bom.
Putice!!! (literariamente falando, claro!).