Chego a casa.
Vou buscar um café.
Os cigarros.
Sento-me no sofá, de portátil ao colo e tento escrever qualquer coisa que faça sentido, mesmo que apenas para mim, com o objectivo geral de não me sentir tão miserável.
Já sabia que isto ia acontecer, mas uma coisa é perspectivar, outra é estar lá. E os tempos não se mostram mais meigos. Exerço assim uma pequena auto futurologia, que na realidade não passa de um "tomá lá, que é para não seres parva, estavas à espera do quê?".
Na bolinha de cristal vejo, novamente (é sempre novamente!!!), dias compridos, sem objectivo. Passeios em mim, exposições de outros, falta de vontade para o dia, noites sem fim à frente da televisão, filmes, livros, tudo misturado numa falta de interesse própria de quem tem tempo para tudo e não tem disponibilidade interior para nada.
Já estive lá, já sei como é. E é isso que me assusta. Conhecer os meandros da falta de tudo.
Bebo o café.
Acendo um cigarro.
Acendo outro.
Não vou viver isto agora. Tenho tempo. Tenho tempo para desesperar quando o desespero se instalar. Ou será que já o fez?
Baralho os pensamentos e volto a dar. Mas vai dar ao mesmo...