O amor pode vir em forma de frasquinho {comprado na loja do chinês}, para guardar aquele resto de perfume que se salvou, quando a tua empregada decidiu atirar com um frasco ao chão...
...o eres solo un sueño que yo tuve.
Eu gosto do amor. Gosto de pensar no amor para sempre. Gosto de pensar que o meu amor é para sempre. E gosto de acreditar que todos temos alguém com quem é suposto envelhecermos. Muita Cinderela, eu sei, mas gosto de pensar que é assim, verdade universal e transversal.
Uma das minhas grandes amigas (daquelas do tempo em que éramos todas virgens) terminou uma relação de uma vida inteira. Amanhã vem passar o fim-de-semana comigo e claro está, com a garrafa de gin, que as dores do coração precisam sempre do seu quê de álcool. Ultrapassando os factos do que aconteceu ou não, fiquei a pensar até que ponto a paixão se transforma em amor e o amor em hábito. É porque tenho esta teoria: no início estamos todos apaixonados e, com o passar do tempo, a paixão transforma-se em amor (ou não e vai cada um à sua vida). Mas quando a paixão se torna amor, quando é que o amor se torna hábito? Quando é que olhamos para a criatura que está ao nosso lado e já não sentimos borboletas, nem no estômago, nem na alma? E será que percebemos, de imediato ou demora algum tempo até conseguirmos entender o que nos aconteceu?
[Se estão à espera da solução... não vai ser hoje, nem aqui... Eu gosto de me questionar mas raramente encontro as respostas...]
(e se, quando passares por mim, estiver com os olhos fechados?)
Olho para a esquerda, para a direita, para cima, para baixo, longe, perto. E não. Não é uma qualquer música para crianças com finalidades pedagógicas de noções espaciais. É mesmo a realidade, aquilo a que chamam vida. E que tem corrido mal a todos.
- Estás chateada comigo?
Não!!! Estou chateada COMIGO!!!
Por tudo e por nada. É quase por ser quem sou, como sou. Por não evoluir, por achar que todos os contos têm necessariamente que ser de fadas, com varinhas mágicas, e, nesta altura, já devia ter compreendido e assimilado que, varinhas mágicas, só aquelas que trituram os vegetais para a sopa.
Recuso-me a compreender a verdade mais elementar. Que não controlo a minha existência. Que dependo de outros. Até aqui tudo bem. Estamos todos no mesmo barco. Ninguém se basta a si próprio. Não para sempre. Não sempre bem.
A desilusão baseia-se mais no vício. No vício da companhia, das conversas, dos momentos que, claro!, são todos únicos e especiais.
Cresci a saber que as Cinderelas iam morar nos castelos no alto dos montes com os príncipes encantados, que outrora foram sapos viscosos. Alguém se esqueceu de continuar a escrever que, passado algum tempo, a Cinderela começou a tomar xanax para dormir e que o príncipe voltou à sua forma original.
Dou assim por mim com uma visão romântica do amor (seja lá isso o que for) e não entendo as complicações e hesitações e outras coisas terminadas em ões dos outros.
E passo mal. Tão mal, tão mal.
Recomponho-me, é certo. Sei de antemão que não vou morrer de tristeza, e que vai passar e que vou voltar a rir até ter dores no estômago. Mas quase que tenho a certeza que um desgosto de amor pode enlouquecer as pessoas.
Depois há as palavras. As que se dizem, as que ficam por dizer, as que queríamos ter dito e aquelas em que na altura em que abrimos a boca nos deveria cair uma bigorna ou um piano em cima.
Já nos disseram amo-te milhentas vezes. amo-te. amo-te. Amo-te tanto. Amo-te muito. Porque quando se está apaixonado todas as palavras parecem poucas para o expressar. E vamo-nos repetindo até à exaustão, até acharmos que o outro já sabe a forma absoluta e magnifica do nosso sentimento. On the other hand, um "já não gosto de ti" é dito uma vez. Só. Depressa e secamente, para não deixar dúvidas, para não haver lugar para desacordos. Mas, no final, aquilo que fica é a falta de amor a que somos votados e todas as horas boas se diluem.
E agora, que tenho o coração no Pólo Norte (literalmente), as coisas continuam difíceis e complicadas, porque quem vai apanha ar e quem fica apanha tudo o resto, sem isso ser necessariamente bom.
Putice!!! (literariamente falando, claro!).
À volta de uma mesa de um bar de jazz, copos de imperial, garrafas de minis e taças semi-vazias de pipocas, misturavam-se com maços de cigarros vazios, cinzeiros sujos e isqueiros coloridos.
Conversava-se sobre tudo e nada, daquelas conversas que se repetem ano após ano. Como está a tua vida, como está a minha, como vai o mundo, o melhor filme do ano, como vai o coração, está partido ou já sarou.
Quantas vezes disseste amo-te? Quantas vezes o sentiste? E como o sentiste? Foi sempre igual? Diferente? Porquê? O que foi que aconteceu no caminho?
Crescemos a ouvir amo-tes em todo o lado. E quase que nos sentimos obrigados a dizê-lo também, com receio de que algo fosse faltar à nossa existência.
Hoje já não dizemos. Ganhámos esse direito. Somos mais reais e mais maduros. Já não nos deslumbramos da mesma forma, o que não é forçosamente mau. Apenas não é igual.
Descansamos.
Voltaremos a dizer amo-te aos nossos netos.
Na verdade, já me habituei a estar sem ti e espanto-me cada vez que penso nisso. Não é que eu não acreditasse em mim ou nas minhas capacidades, mas cheguei a duvidar delas. Dei-te ouvidos quando me dizias coisas inoportunas em momentos não mais oportunos.
Tinha medo que o ar deixasse de ser respirável pela força da tua ausência e comprovei o oposto.
Não sei quantas luas ainda irão passar para me passar, a mim, o vazio que cá ficou. Entretanto, vou-o preenchendo com coisas reveladoras do mundo que me rodeia e que aprendi a viver.
E decidi que me vou casar com o primeiro grande amor que me aparecer pela frente, pois não sei amar de outra forma nem tão pouco relativizar a paixão. Para mim, todos os amores são grandes, pois são os meus.
E as horas nunca voltam para trás.
Enquanto escrevia o título, dei por mim a engolir em seco. Por mais que se fale, discuta, debata, escreva, não há maneira de me decidir se sou ou não capaz de amar. Já achei que sim, mas estou a duvidar dessa minha capacidade.
O amor tudo explica. Tudo vence. Tudo convence, ou convence a tudo, já nem sei.
Ontem à noite, expliquei a duas das minhas melhores amigas que, na eventualidade de me apaixonar desgraçadamente por alguém e resolver casar com esse mesmo alguém (?!?!?), vou ficar eternamente à espera do noivo. É minha forte convicção ficar pendurada no altar!
Falta de confiança no Mr Right? Não... falta de confiança em mim.
[olhares.com - Galeria de David Tavares Sousa]
. deixas-me sempre com um b...
. ahora no se si tu existis...
. Quantas vezes já disseste...
. Love.
. inspiration