Como escrevi no post anterior, partimos do Oásis de Fint para Essaouira, uma cidade na costa atlantica de Marrocos.
O percurso, apesar de não ter mais que 3 curvas, demorou imenso tempo, devido à estrada estar em obras de 2 em 2 quilómetros.
Chegámos a Essaouira por voltas das 23 horas e havia imensa gente na rua. Dava para perceber que se tratava de uma localidade de Verão e ficámos insatisfeitos por chegar a um sítio que parecia Lagos mas maior. Depois da calma do Oásis não apetecia nada ter que lidar com a multidão.
Estacionar o carro foi relativamente fácil e descobrimos com surpresa que não ficava longe do riad onde iríamos pernoitar.
Tínhamos feito a reserva do quarto ainda em Portugal, e lá fomos com a nossa bagagem (que crescia de dia para dia, vá lá perceber-se porquê) ansiosos por um bom banho e alguns luxos que no deserto não são fáceis de encontrar. A escolha do riad, e do quarto em particular, tinha sido criteriosa e não nos importámos de pagar um pouco mais para nos alojarmos num sítio tão bonito. Claro que, à boa maneira marroquina, como chegámos tão tarde, o nosso quarto tinha sido alugado a outros hóspedes. No entanto, Monsieur Didier (um francês cinquentão e sósia de Herman José), dono do riad, descansou-nos e levou-nos para outro riad a 50 metros dali.
Começámos a ficar um bocado preocupados quando abriu uma porta pequena porta e vislumbrámos umas escadas íngremes de madeira, antecipando uma noite desconfortável numa escáfia de hotel. Estes pensamentos não poderiam estar mais longe da realidade! No cimo das escadas deparámo-nos com um riad fantástico, de design, com uma decoração irrepreensível e um terraço de cortar a respiração. Sem dúvida, um local muito mais bonito do que aquele que tínhamos reservado!
O nosso quarto era também fantástico e, quando ficámos sozinhos, sentámo-nos na cama, em silêncio, a observar tudo e ainda sem acreditar muito bem que estávamos num sítio tão elegante.
No meio do silêncio sobressaiu um barulho, que vinha da rua. Ao abrirmos a janela do quarto o barulho vinha daqui... Era esta a vista do nosso quarto!
Essaouira foi a minha cidade preferida e, quando for grande, gostava de viver lá e ter o meu próprio riad. Já me imagino com um lenço na cabeça a receber os visitantes... O mar, a praia, as pessoas, enfim, não há palavras. Vou ter que lá voltar. É daquelas coisas que tenho mesmo que fazer!
Durante o dia é uma cidade cheia de cores, ruas estreitas com as portas pintadas de azul que se confundem com as tonalidades quentes das especiarias, que estão à venda por todo o lado.
À noite, ruas movimentadas, com imensos cafés e bares por todo o lado.
Claro que as nossas refeições foram feitas em tascas de rua, apinhadas de marroquinos, com ar deliciado. Kebabs e peixe fresco grelhado, mesmo junto ao mercado do peixe. Sem luxos, mas verdadeiramente bom!
Essaouira
Há um traço português nesta cidade, quer no forte construído por nós (ainda Essaouira era Mogador), quer na cultura das pessoas, que nos tratam como se fossemos da família e referem sempre o nosso passado histórico comum (os gajos roubaram-nos o forte, mas tudo bem!!!).
Em Essaouira fizemos compras no sítio mais giro em que já estive, uma loja muito pequenina que vende todo o tipo de chás e plantas. O dono, um rapaz assim do mais simpático, chamava-lhe "pharmacie berbere". Comprámos chá para sorrir e viagra tuareg. Um luxo!
E foi com pena que saímos de lá, mas mesmo com muita pena e a amaldiçoar a nossa vida de pobre, com os dias de férias contabilizados ao milímetro, sem lugar para devaneios... Preciso tanto de ganhar o euromilhões...
E qual Infante D.Henrique, a vislumbrar futuros portos, fomos pela costa em direcção a El Jadida (a nossa antiga Mazagão).
TO BE CONTINUED
A partilha desta viagem já vai longa e não tenho tido nem tempo real, nem tempo psicológico (vulgo vontade...) de escrever, pois ando um bocado cansada e férias é o que eu já estou a precisar outra vez...
Mas como me propus a escrever esta experiência resta-me continuar...
A saída para o deserto foi feita desde o Auberge du Sud. Tínhamos 1h e 30m de viagem até ao acampamento sentados nuns confortáveis camelos, que nos arruinaram o rabo e zonas adjacentes, mas que nos proporcionaram a vista de um pôr do sol inesquecível.
O pôr-do-sol deserto
Chegados ao acampamento, jantar (comi a melhor sopa do mundo!) e mais uma musiquinha berbere para animar. Nessa noite fomos deitar-nos cedo, porque queríamos acordar para ver o sol nascer. As nossas camas estavam preparadas na rua, no meio da areia e dormir debaixo das estrelas enche a alma!
A meio da noite acordei com a luz e pensei que tinha perdido o momento do nascer do sol, mas era a luz da lua que, entretanto, tinha também nascido.
Antes do pequeno-almoço, e com a higiene íntima por resolver, lá fomos sentar-nos numa duna e ficámos à espera do sol. Nesse momento, o deserto encheu-se de cores que eu não conhecia e que ainda agora não consigo descrever.
O nascer do sol
Depois do pequeno-almoço, voltámos para o Auberge (mais uma hora e meia de camelo) e pudemos beber um café e tomar um mais que merecido banho!
Foi com pena que saímos do Auberge du Sud, mas tínhamos mais 300Kms à nossa frente até ao Oásis de Fint, perto de Ouarzazate.
O Oásis de Fint foi-nos sugerido pelo dono do Auberge du Sud, como forma de fugir aos locais mais turísticos. Combinámos que, chegados a Ouarzazate, iríamos telefonar para nos irem buscar, pois em Marrocos é difícil viver de indicações!
E assim foi! E foi outra aventura. O Oásis de Fint é uma pequena aldeia onde se vive em comunidade e onde se cultiva e produz aquilo que se come. Não há estrada para lá, e tivemos que enfiar o nosso Dacia Logan alugado pelo meio de crateras de terra batida, pedras e até um rio! Enfim, todo um filme! Claro que não há rede de telemóvel e só há 2 anos que aquele lugar tem electricidade, graças ao actual rei de Marrocos.
O Oásis é outro local saído de um filme. O rio, onde se lava a roupa, a vegetação, que pinta tudo de verde, e as pessoas que são assim do mais simpático possível.
Oásis de Fint
Pela primeira vez comi manteiga caseira e fui a atracção dos adolescentes da aldeia, quando fomos nadar ao rio (mulheres de bikini é coisa que não abunda em Marrocos!).
Depois de termos ajudado a carregar um fogão (sim, que ali toda a gente tem de ajudar!) e de termos feito de taxistas para um dos homens da aldeia (fomos com ele comprar fruta, iogurtes e tal), continuámos o nosso caminho, desta vez em direcção à costa, a Essaouira.
TO BE CONTINUED...