Num destes dias arrastaram-me, com promessas de um jantar de sushi e de sangria, para uma palestra do Eduardo Sá. Gosto daquilo que diz, não tanto pelo conteúdo em si, mas porque me põe a pensar e isso, por si só, é positivo.
Dizia ele (suscitando um aplauso de algumas pessoas do público) que as Educadoras de Infância deviam ser tão bem pagas como um magistrado do Supremo Tribunal de Justiça. Deviam. Deviam. E este verbo ficou a aqui na minha cabeça a marinar até que se revelou numa grande dose de mau feitio, misturado com raiva e injustiça.
Claro que as Educadoras deviam ser mais bem pagas. Claro que EU devia ser mais bem paga! Mas estou farta do verbo dever e de ninguém fazer nada!
Sou eu que crio os vossos filhos, que lhes mostro arte, música, histórias, que os faço rir, sorrir, que lhes limpo as lágrimas, o nariz e o rabo. Sou eu que passo o dia com eles, que os vejo crescer, que me rio da coisas maravilhosas que dizem, que lhes mostro que o mundo não é perfeito, que lhes ensino o que é o olfacto e um quadrado. Sou eu que lhes dou colo quando estão doentes, que lhes canto os parabéns quando fazem anos, que os ajudo a preparar surpresas para o pai e para a mãe. Sou eu que os ensino a comer com faca e garfo, a distinguir a mão esquerda da direita e a contar até 20. Sou eu que lhes digo que partilhar é bom, que dar pode ser melhor que receber e que bater não é bonito. Sou eu que os preparo para a vida que aí vem!
Mas sim. Continuem a fazer salamaleques aos juízes, aos ditos "doutores". Continuem a achar que ganham de acordo com a sua responsabilidade. Paguem mundos e fundos a quem manda os gatunos para a cadeia, ser for legal fazê-lo e não ferir nenhum tipo de susceptibilidade.
O problema é que além de mal pagos, pouco respeitados e ignorados, os professores são os únicos profissionais que conheço que têm que levar material para o local de trabalho. Um médico não compra soro para ministrar aos seus pacientes, nem um pedreiro compra tijolos para concluir uma obra. Eu compro o que tiver que ser, pois de outro modo não tenho com que trabalhar da forma que eu acho que deve ser.
E continuem a achar que quem vive a vida dos vossos filhos devia ganhar mais. Porque um simples pensamento pode deixar-nos dormir de consciência tranquila...