Pois é, não fui despedida.
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu ando para aqui e para ali e para todo o lado a queixar-me, enquanto {segundo algumas opiniões} deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
E sim, devo ser um estupor mimado e egoísta, porque, com tanta gente sem emprego, eu acho mal trabalhar muito, ser mal paga, ser explorada, ter que levar com conversas de merda, enquanto deveria estar aos saltos e aos pulos de felicidade.
Estou? Não!
Como costumo dizer ao R., o que realmente custa, é levantar o traseiro da cama todas as manhãs e ir trabalhar. Custa muito muito menos ficar a ter conversas no café sobre a crise, o desemprego e blá blá blá...
Hoje {dia particulamente chato/aborrecido/merdoso} o plano é ir para casa beber...
E o plano não é um exclusivo meu.
Há por aí meia dúzia de alminhas que devem estar a fazer a mesma coisa...
"Tens que aguentar..."
"A vida é mesmo assim..."
"Em todo o lado é igual..."
E vou ouvindo estas frases, da boca das mais diferentes pessoas, e tenho diferentes reacções, consoante o nível de paciência do momento. Na verdade, estou farta do meu trabalho! Ou melhor, não é bem do trabalho, é mais da escravatura do século XXI, que anda disfarçada de construção de carreira, do esforço hoje em prol do amanhã.
Estou farta!!!
Aliás, não sei quem entendeu que eu queria uma carreira. Talvez eu apenas queira trabalhar, em paz e com a consciência de uma boa prestação, e não queira carreira nenhuma! De qualquer forma, também não me parece que a vá ter... é pura escravidão!
Chegámos a um ponto em que a tecnologia actual mais parece ficção cientifica, mas perdemos todo e qualquer respeito pela pessoa, pelo individuo enquanto ser único e especial (sim, que todos somos!). A vida perdeu todo o valor.
O emprego que tu não queres há mais 300 que querem e até por menos dinheiro. E por menos condições. E bem bom ter uns trocos no final do mês para ir beber uns copos.
Por isso cala-te, deixa-te explorar no emprego, para teres dinheiro para o Banco onde tens o empréstimo da casa e do automóvel te explorar a seguir, para conseguires que a seguradora que te cobra um balúrdio te consiga explorar e para assim continuares numa vidinha de escravo, a brincar às pessoas felizes e realizadas.
Opá, metam-me num barco e vendam-me aí num sítio qualquer...