Já não sei se foi com Machado de Assis, se com Agustina Bessa-Luís que aprendi a riscar livros. Ler com um lápis de carvão na mão, com o poder de sublinhar, escrever apontamentos nas margens e fazer círculos à volta de palavras, revelou-se imprescindível. É um reescrever de cada página. Não apenas consumir palavras, mas pensar nelas, senti-las.
Sublinhado de hoje (com o traço bem carregado e muitos pontos de exclamação nas margens):
" (...) É isso que assegura a sobrevivência do sistema e permite que sejamos capazes de fazer a substituição dos que envelhecem ou vão ficando pelo caminho. Eu não sei se já te contei que, num formigueiro, oito em cada dez formigas não fazem nada, só atrapalham, mas a sobrevivência do formigueiro é assegurada pela reserva daqueles oitenta por cento de desperdício das formigas ociosas. Se todas tivessem uma função, tu pisavas um formigueiro e ele ficava incapaz de se recompor. Tu não vês que é mais ou menos o que está a suceder a esta engrenagem onde vocês estão metidos? (...)"
O Riso de Deus, António Alçada Baptista