Há uns dias li um artigo onde o tema principal era que, se pudesses escrever uma carta ao teu "futuro eu", o que escreverias?
E, ao mesmo tempo em que uma data de ideias {muito óbvias} me assaltavam, percebi que, na realidade, é difícil escrever tal carta, pois tudo muda e nós, inevitavelmente, também.
Quando tinha 20 anos eu já sabia tudo, agora, com quase 40, não sei nada de nada... e cada vez vou sabendo menos... {a minha "sabedoria" diminui à medida que a idade aumenta!}.
E pergunto-me: "Com 20 anos achavas que a tua vida ia ser o que agora é?"
E respondo-me {do alto da minha ignorância}: "Não sei..."
Não sei, porque não me lembro, ou lembro-me pouco, de quem eu era nessa altura. E porque agora, aos 40, sou o resultado das escolhas {ou da falta delas} que fiz aos 20.
Nem tudo é bom agora, tal como não era tudo bom há vinte anos atrás. E há coisas muito melhores agora e, outras, muito piores.
No meio de tudo isto, o que realmente me preocupa é a minha cabeça sentir-se com 16 anos...
Chego a casa.
Vou buscar um café.
Os cigarros.
Sento-me no sofá, de portátil ao colo e tento escrever qualquer coisa que faça sentido, mesmo que apenas para mim, com o objectivo geral de não me sentir tão miserável.
Já sabia que isto ia acontecer, mas uma coisa é perspectivar, outra é estar lá. E os tempos não se mostram mais meigos. Exerço assim uma pequena auto futurologia, que na realidade não passa de um "tomá lá, que é para não seres parva, estavas à espera do quê?".
Na bolinha de cristal vejo, novamente (é sempre novamente!!!), dias compridos, sem objectivo. Passeios em mim, exposições de outros, falta de vontade para o dia, noites sem fim à frente da televisão, filmes, livros, tudo misturado numa falta de interesse própria de quem tem tempo para tudo e não tem disponibilidade interior para nada.
Já estive lá, já sei como é. E é isso que me assusta. Conhecer os meandros da falta de tudo.
Bebo o café.
Acendo um cigarro.
Acendo outro.
Não vou viver isto agora. Tenho tempo. Tenho tempo para desesperar quando o desespero se instalar. Ou será que já o fez?
Baralho os pensamentos e volto a dar. Mas vai dar ao mesmo...